Daqui da janela estou vendo que lá fora está um sol danado. Não está calor. É outono. Tudo quieto e tranquilo. É a deixa pra eu já ir me perdendo em pensamentos. Aliás, coisa que mais faço na vida e qualquer dia não vai ter mais espaço nessa minha cabeça.

Ontem um grupo de amigas esteve aqui. Vieram me cuidar. 

Como elas são? Lindas, inteligentes,  bem-sucedidas, mães, parceiraças de seus pares. Resumindo, uns “mulherões da porra”. 

Tem a fanática por Carnaval, a que é quase uma santa, a psicolouca, a que é meio hippie, a que faz doces dos deuses, a companheira de caminhadas, a esperta. Todas me entregam uma parte delas e levam uma parte de mim. Somos promíscuas – gostamos de nos misturar. E é por causa da amizade delas que, muito provavelmente, foi descoberto o conceito de “saúde mental”.

Amigas que ainda tenho… Sim, algumas eu fui perdendo pelo caminho – ou foram se perdendo de mim. Faz parte. Não ia ter jeito de chamar todo mundo pra festa. Mas as que ficaram ensinam tudo sobre a lei da seleção natural. Ficaram porque são necessárias.

Quando a gente chega nos “enta” as prioridades vão mudando. Aquela necessidade de sair com a galera toda semana vai sumindo. Você e todo mundo já tem que cuidar da família, se manter no trabalho, ajeitar a casa, fazer compras, ir ao médico, sair com o marido, preparar a janta. Ufa, não dá mais pra insistir na presença. Mas nisso a tecnologia ajuda. É quando um coraçãozinho no “wazap” já basta pra saber que ela está ali pra você.

Mais velha o papo também é outro. Nada de falar coisa muito consistente. 

Ao invés do interminável “papo cabeça”, quanto mais besteira melhor. Fofoca então é imprescindível. E a gente quer é rir, dançar, comer, passear. Não há mais tempo a desperdiçar. Tempo juntas vale ouro.

As meninas vieram aqui ontem. Vieram me cuidar. 

E eu aprendi mais uma coisa: amizade é verbo – que se conjuga em todos os tempos, em todos os modos, de todas as formas!