Estava assistindo a uma reportagem sobre o roubo dos fios de trens em São Paulo, chocada com a estupidez de quem prejudica a própria sociedade, quando começaram os depoimentos dos passageiros. Um explicava: – “Se os trem continua parado, a gente perde os compromisso.” Perguntava outro: – “Cadê os fio?” Disparava mais um: – “Tá cara as passagem e o trabalhador ainda sofre.”

Estarrecida me dei conta de que o roubo tinha sido muito maior. Onde estariam os “esses”?

Registro em cima de registro e sempre havia alguém cometendo o mesmo deslize (ou assassinato?) na Língua Portuguesa.

Repare que não estou me referindo à forma escrita não porque, eu sei, todo mundo conhece quem se expresse muito bem no discurso oral, mas que na hora de escrever seja um verdadeiro horror.

Pra você entender direitinho do que estou falando, precisa que eu diga que as pessoas do noticiário até se comunicavam bem. Tinham opiniões bacanas. Usavam o Português razoavelmente – não fosse pela falta do maldito plural.

Estaria o plural em desuso? Seria a ausência de concordância uma espécie de vício ou modismo? Estaria a falta dele nas palavras no mesmo patamar do “tá ligado”, do “tipo assim”? Isto é: todo mundo fala, vou fazer igual.

Meu medo é que os indivíduos estejam errando de propósito, ou seja, pra não “pagar o mico” de falar direito. Pode ser que, em algumas rodas, o sujeito seja considerado até esnobe ao se manifestar conforme as regras. Coisa descabida.

Eu não quero ser chata, mas convenhamos, é o fim do mundo. É dever de qualquer cidadão se esforçar pra usar seu idioma corretamente. Ignorância é um mal com alto poder de destruição. Estaríamos regredindo ou nos nivelando por baixo?

Triste. Nosso povo só perde. Cada dia mais. Já não tem hospital, já não tem polícia e, claro, como não tem escola, anda perdendo também o plural.

Kátia Galvão em 50etcetera