Clichê

Quer uma fórmula bastante engenhosa para tentar fazer alguém se sentir mal consigo mesmo?

Faça uma citação, dessas que parecem lição de moral pré-fabricada. Serve de gente famosa da tv, filósofo, escritor, inventor, ganhador de prêmio, até de autor desconhecido. Mas tem que ter impacto. Pode experimentar os ditos populares também. São perfeitos para fazer com que o pobre alvo da sentença pense que só ele no mundo é capaz da tal atitude – ou pensamento – repreensível.

Tem gente que repete bordões para que aparentem verdades. Nada contra os bem-intencionados. Problema é que alguns usam jargões como facas. Se você precisa e eles querem negar, toma um “aqui não tem dois pesos e duas medidas”, com a maior naturalidade. Se age como humano em relação ao trabalho, escuta um “maturidade é saber separar o pessoal do profissional”, na maior cara de pau.

Engraçado que, por um tempo, agir assim ou assado pode ter sido conveniente. Prestava aos interesses. Depois passou a ser criticável – até a próxima necessidade, lógico.

É o jogo da atribuição de culpa. Como quem dissesse o chavão tivesse sido exemplarmente coerente a vida inteira. Fico me perguntando o motivo: será pra justificar seus atos, jogar indireta ou desqualificar mesmo?

Tá tão na moda ser clichê! É mais rápido do que argumentar. Dá menos trabalho que esclarecer – e exerce a valiosa finalidade de submeter o que é de caráter exclusivamente particular ao deferimento do senso-comum.

Atualmente tem inclusive a versão rede social, onde se joga uma insinuação seja qual for e, se colar, colou: “só o dono da dor sabe o quanto ela dói”.

Quando escuto pela primeira vez uma frase feita, aplicada como censura, eu paro e reflito. Fico lá, igual boba, imaginando o que fiz de condenável. Mas, passada a segunda tentativa de executar o mesmo golpe, a farsa já não dá mais resultado. Burra não sou. No máximo crédula, por ter dado um primeiro voto de confiança àquela erudição toda.

Também faço uso de frases de efeito. Normalmente prefiro as que levantam o moral e as que fazem rir: “sobre a minha lápide vai estar escrito NÃO FAÇA ESSA CARA TRISTE, EU TAMBÉM PREFIRIA ESTAR NA PRAIA.” Me sinto melhor inspirando reações positivas!

É preciso ter cuidado com os artifícios usados na defesa de causa própria. Por via das dúvidas, melhor respeitar a sabedoria popular: “não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você!”. Desculpe, não resisti.

Kátia Galvão em 50etcetera

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