Defina uma pessoa interessante. Ela é tudo, menos óbvia. Ela é autêntica. Surpreendente. A quem não se pode decifrar ou tentar definir.

Contraventora confessa, desafia as prisões. Escandaliza com suas ideias originais. Não se diminui para caber em espaços. Não se abaixa para atender a mentalidades pequenas.

Excessivamente dura umas horas, nem parece aquela que adora bagunça. É que não suporta injustiça, mau-caratismo, hipocrisia, meias verdades e sujeira embaixo de tapete.

Adepta aos exageros, se lança a novos projetos com a paixão da criança que se atreve a experimentar. Ela é do mundo! (E há tanto por sentir!)

Acredita na humanidade – apesar de desconfiar de palavras. É em ações que deposita sua fé. Ao menor sinal de contradição, já desperta.

Não precisa de nada, nem de ninguém, mas só se enxerga através da relação com o próximo. Deixa-se então cuidar, sem algemar, porque um dia pode estar pronta para derrubar castelos.

Arrisca-se a um universo inteiro de possibilidades. Não tem sonhos que caibam em um personagem apenas. Por isso as múltiplas fases, histórias, viagens, coragens.

Livre, mais de espírito do que das responsabilidades provincianas, é frequentemente criticada – e secretamente invejada.

Espiritualizada e mundana. Inadequada e leal. Afetuosa e sarcástica. Se encaixa em qualquer papel: de mãe dedicada à líder do bando. Mas prefere não se enquadrar em nenhum rótulo.

Curiosidade e protagonismo estão na moda. Ela sempre esteve. É atemporal.

É a amiga a quem se confidencia os segredos, a amante que partilha os desejos, a parceira que divide os planos – sem pudores, sem julgamentos, sem emboscadas.

Em sua mais cordata versão, aceita ser contida. Nunca usada ou submetida. Jamais calada ao ser ferida.

Ela não está nem aí para o que você pensa dela. Diverte-se – com o prazer de saber que será eternamente lembrada – de um jeito ou de outro!

Kátia Galvão em 50etcetera