Andando numa rua de Teresópolis, deixadas por nossos maridos, passamos por uma situação pra lá de fofa: recebemos uma cantada! O cara olhou pra trás, avistou todas aquelas mulheres na maior excitação rumo à feirinha e disparou: “- queria só saber o que esses bombons estão fazendo fora da caixa.” E seguiu o caminho dele!

Não teve assédio. Não teve mau gosto. Não teve inconveniência. Não teve abuso. Teve apenas o famoso xaveco – clássico e elegante. Inocente!

Quando eu era adolescente era comum as meninas terem um caderno de perguntas que circulava de mão em mão. Tinha uma especialmente bobinha que me veio à lembrança depois disso: “- qual sua palavra favorita?”

A minha era sempre igual: SINGELEZA. Pelo som, pelo tamanho, mas principalmente por causa do significado.

Singeleza, segundo o dicionário, é a “ausência de ornamentos; sem sofisticação; em que há simplicidade”, resumindo, atributo que praticamente ninguém valoriza mais.

Adoro um pé no chão, um feijão com farofa, uma roupa de ficar em casa, um cabelo preso, um sotaque do interior, sentar de perna de chinês, conhecer gente interessante e despretensiosa. E, claro, um elogio espontâneo, meio infantil.

Onde foi parar a ingenuidade? Por que precisamos ter ficado espertos, maliciosos, safos – até grosseiros? Não daria para preservar o melhor de cada tempo? Ou será que tecnologia e modernidade exigem rudeza de modos, de caráter, de atitude?

Se não estivéssemos tão surpresas e sem jeito naquela hora, provavelmente teríamos respondido ao galanteador senhor que os bombons tinham acabado de sair de um monte de Opalas, quase da mesma época do galanteio singelo. E como foi bacana aquele dia: cheio de pessoas, carros e momentos à moda antiga!

Kátia Galvão em 50etcetera