Cada vez que o vento sopra forte me vem arrepios. Morro de medo!
Vento me remete a janelas batendo com força, quase arrebentando, e som de uivos sem lobos pela noite afora. Também me carrega para um acampamento com barracas voando, confusão, fim inesperado de férias.
Chuva, só relaxo com as fracas. Temporal me apavora. Tempestades me evocam desde às enchentes do bairro de infância até a recentes alagamentos inteiros: de carro e casa.
Altura me dá labirintite. E, por conta de um baita tombo e uma capotagem, hoje fico com uma sensação de desmaio se eu me lanço centímetros acima da minha base. Gosto de ter meus pés fincados no chão. E de fronteiras. De segurança. (Saltos ainda se mantêm à parte).
Não tenho o hábito de focar em nenhuma tragédia, muito menos me prendo a qualquer revés que tenha passado na vida. Mas, contra minha vontade, as marcas se instalam e depois se cristalizam.
Marcas são cicatrizes, feridas que saram, porém não desaparecem. Situações deixam marcas. Gente deixa marca.
Marca não é tatuagem, que você faz porque quer. Marca se hospeda sem sua licença, sem permissão alguma. Marca é evidência.
Marca se refere mais à coisa ruim do que boa. Marca é pejorativa. Marca sugere dia seguinte, avaliação de estrago, cômputo de perdas. Marca não é lembrança. Pode ser recomeço. Pode não ser.
Marca é rastro e resquício. É efeito de uma causa no espírito. Marca é pessoal.
O propósito? O de funcionar como gatilho mental, evitando o sofrimento, protegendo a alma de novas decepções e dores. É capricho do inconsciente. Facilitador do trabalho do cérebro. Alerta de que há perigo a ser temido e cuidado a ser tomado.
Marcas são como rugas. Não quero abrir mão das minhas. São meus sinais de resistência ao tempo, de sobrevivência, de histórias.
Marcas são até sacanas, quando se fantasiam de covardia, e nos obrigam a ser desconfiados, limitados e rancorosos.
Marcas – agradeço e abençoo – merecem o direito de serem encaradas como trunfo, não como fardo!
Por Kátia Galvão em 50etcetera
Olhar no espelho e vê-las, as marcas, inicialmente assusta, mas se olhamos pra trás, que puta orgulho!!!
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Simmmmm, sensação boa essa!
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