Abro a planilha para fazer a contabilidade. Anoto ganhos, gastos, dívidas e dividendos. Final de ano, sabe como é, chega a fase de avaliação das finanças e projeção das perspectivas futuras. Tomo um susto!
Deixa eu fazer as contas.
Nos primeiros três meses deste ano eu gastava um bom dinheiro em remédios – pra conseguir dormir, pra acordar bem, pra não surtar – porque o lugar que eu trabalhava passou a ter mais assédios, medos, hipocrisias, incoerências e sapos engolidos do que alegrias.
Não bastasse, precisava comprar roupas, sapatos, bolsas e maquiagem para manter uma imagem bacana. Tinha personal e massagem toda semana. Afinal, eu merecia – pelo stress diário. Tinha carro, pra ser mais rápida e carregar um monte de tralha. Lazer? Quando dava. Geralmente para extravasar e tomar todas em algum lugar da moda.
Eu conseguia me manter sem sustos – só não tinha era dinheiro sobrando. O que vinha, ia. Porque eu sempre precisava urgentemente de algo.
Só que, no segundo trimestre, após a “traulitada” do desemprego, comecei a rever meus conceitos e fazer uma série de reengenharias. Vendi carro pra andar de metrô, Uber, a pé. Troquei remédios pela academia. Fiz mais passeios, gastando menos. Recebi mais amigos em casa na base do “cada um leva o que quiser”. Andei mais de chinelo do que de salto alto.
Me reinventei. Me adaptei. Me recompus.
Hoje é sexta. Dia da famosa Black Friday. Tem um monte de gente na rua correndo atrás de promoções imperdíveis. Mas, de desconto vantajoso, atualmente, ninguém entende mais do que eu – por causa desta liberdade enorme. É que é um espetáculo não ter que ganhar dinheiro pra gastar com um monte de coisas que não me fazem mais feliz.
Resultado da análise: contabilizando os ônus e os bônus, o que de pior me pareceu foi o que de melhor me aconteceu!
Como vou me manter daqui pra frente? Não esquenta. Já já arrumo algum ofício que não me custe tão caro.
Por Kátia Galvão em 50etcetera