O Paradoxo da Crise

Penso demais. Cabeça chega a ficar pesada e gigante. À noite, é comum o quarto se encher de pensamentos e eu custar a dormir, quando não atravesso a madrugada insone. Lá vem eles, fazendo fila para se manifestar sem nenhuma pena.

Nesse período de isolamento então, pensar virou definitivamente meu ofício. É que além das ideias todas que eu frequentemente concebo, ainda tem a invasão das informações sobre a crise, as reviravoltas na política, os milhares de calls, depoimentos, sugestões, opiniões, certezas e polarizações.

Quem disse que eu não fujo? A gente dá unfollow numa pessoa ou outra, bloqueia, deleta, muda de canal, sai de grupo, mas é impossível se esquivar de tudo. Eu tentei ficar fora, juro! Já li trezentos livros, fiz duzentas receitas low carb, faxinei cinquenta vezes o mesmo assoalho e arrumei as gavetas umas setecentos e cinquenta. Mas o tempo não passa. E, lógico, se tem momento ocioso, tem caraminholas na cabeça.

Distanciamento – não seria esse o momento de realmente se afastar de tudo? Evitar que sua alma, seu corpo e sua casa fossem tomados por tantos agressores poderia ser inteligente. Mas como? Por mais que haja o convite ao autoconhecimento, à elevação, à introspecção, já não somos mais os mesmos. Já fomos irremediavelmente contaminados pelo que vem “de fora”.

É como prometer que não vai dar o primeiro gole, mas não resistir. Tem que dar uma espiadinha no que está acontecendo, precisa ficar informado, para quando a crise passar não parecer que está voltando de uma viagem à lua.  E tem aquilo, né? Só dá pra saber da família através da tecnologia. Só dá pra se divertir assistindo a lives, filmes ou séries. Malhar agora é pelo aplicativo. Buscar receita é em site. Verdade é que o mundo virtual se transformou na vida que a gente tinha antes da pandemia: repleta de excessos!

E como será depois? Os românticos, religiosos e idealistas acreditam que haverá uma revolução na maneira como a humanidade vai se relacionar após a pandemia: pessoas mais solidárias, consumo consciente, espiritualidade acima da materialidade.

Pragmáticos e céticos, por outro lado, preveem uma recessão mundial de dimensões catastróficas que irá convergir justamente para o oposto: um salve-se quem puder e dane-se o outro!

Eu não consigo emitir opinião. Vou ali pensar sobre o assunto e depois te conto!

Kátia Galvão

Em 03/04/2020

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