Tá aí uma coisa difícil de admitir. Se você for do tipo que demora a reconhecer o lado perverso de algumas pessoas, então vai demorar bastante pra cair em si. Se o relacionamento é com pessoa muito próxima então – parceiro, pai, mãe, filhos, parentes, agregados e amigos íntimos – fica quase impossível aceitar que se está vivendo um relacionamento assim. É que, muitas vezes, há uma grande sutileza nas estratégias utilizadas para ferir. E, sem dúvida, muita mentira e disfarce.
Eu acho que é porque, tanto na hora quanto depois, a gente fica avaliando a gravidade da situação quando sofre um abuso, um desrespeito, uma desqualificação: se foi só um deslize, um acesso de fúria, se se trata de distúrbio de personalidade ou até doença mesmo. Sem contar o receio de represália, de exclusão, de julgamento, inclusive de magoar outros possivelmente envolvidos na relação. Resumindo: ou você fica com pena, com medo, com raiva ou na dúvida se o problema não é com você (aliás, essa é a intenção)! Até o dia do basta, claro!
Relacionamento tóxico nem sempre tem violência explícita. Ela pode ser mais contida, elaborada, velada. Quase imperceptível aos olhos de quem não sabe da história toda, de quem não sofre com o opressor. O pessoal, um pouco mais “antiguinho” que eu, nem admite que ele exista (acreditam que é tudo frescura ou má interpretação).
Relacionamentos tóxicos, como ter certeza de que não vive um assim entre os seus? Comece conferindo sua autoestima. Sente-se bem ao lado dessa pessoa? É valorizado em seus princípios, cuidado em suas necessidades, respeitado em seu espaço e privacidade? Consegue ser você mesmo? Sente-se tranquilo, seguro e feliz nesse convívio? Tem alguns conflitos de interesses, de gostos, de opiniões, que acabam sendo resolvidos no diálogo, no pedido de desculpas, na concessão mútua? Fique tranquilo, esse aí não é um deles!
Mas vamos ao oposto. Num relacionamento tóxico, o “opressor” (também conhecido como abusador ou manipulador) deseja que você se sinta mal consigo mesmo, que duvide de sua capacidade. A intenção é abalar sua autoconfiança, aproveitar-se de suas inseguranças e fragilidades. Na verdade, ele sabe exatamente aonde atingir porque, eventualmente, já estudou e vasculhou bastante sua vida pra colher informações e deturpá-las em benefício próprio, no momento certo. Mas não faz isso às claras, de modo que seja possível a sua defesa. Geralmente se esconde atrás de uma carinha simpática, sociável e agradável. Por isso, não espere encontrar apenas o perfil do arrogante e hostil. É mais comum o que “não faz por mal”, dificultando assumirmos a verdade que parece impossível.
No relacionamento tóxico existe a necessidade de poder, de controle do outro. Mas ele também não quer estar sozinho no seu propósito de desqualificar seu opositor. Ele precisa de aprovação. Então fica procurando validação entre as pessoas que o cercam. Precisa fazer alianças contra você. Às vezes consegue!
Num relacionamento tóxico cai-se numa armadilha meticulosamente preparada para: ignorar, desconsiderar, desprezar, usar você. Logo a seguir vem a vitimização ou a tão conhecida “atribuição de culpa”, que SEMPRE recai sobre o colo de quem foi alvo da emboscada.
É preciso aprender a se amar muito para não mais aceitar compartilhar sua vida com gente tóxica em relacionamentos abusivos disfarçados de “paz e amor”. Não ignore mais os sinais. Não faça mais vista grossa. Não minimize ou desculpe mais.
Como se faz? O primeiro passo você provavelmente agora já deu: parou de negar o óbvio e entendeu que está dentro de um relacionamento nocivo assim! Agora segue com coragem e vai ser feliz! Você não precisa disso!
Kátia Galvão
Em 50etcetera